terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Do sonho a realidade

O calor daquela tarde era surpreendente, ela suava em bicas e sentia que sua calça jeans e regata grudavam no corpo molhadas de suor.
Chegou em casa esbaforida, entrou correndo jogando a bolsa bege em cima da cama, entrou no banheiro despindo-se e em questão de segundos já estava embaixo do chuveiro.
Que delícia aquela água morna correndo por seu corpo, escorria pela cabeça, passava pelo pescoço, busto, barriga, coxa, perna e finalmente chegava aos pés. Água em abundância misturada junto à espuma do sabonete líquido que descia por sua pele úmida e macia.
Lavou os cabelos, torceu-os e saiu do chuveiro, passou óleo perfumado por todo o corpo, enxugou-se com leves batidinhas, colocou o roupão rosa felpudo e saiu do banheiro.
Aquela noite seria especial, iria a um show muito esperado, aguardado por anos e finalmente estava se arrumando para tal evento.
Secou os cabelos e enrolou-os com babyliss, maquiou-se, vestiu-se e pegou a bolsa ao sair.
O táxi já a esperava na porta. Entrou, acomodou-se e partiu.
Estava meio assustada, algo naquela situação estava embaraçoso, não estava certo, havia alguma coisa de muito errado e ela não conseguia compreender.
Olhou para o motorista com o rabo dos olhos e notou que ele também a observava, só que com um olhar perigoso, guloso, ameaçador.
Entrou em pânico, o suor começou a porejar sua testa, têmporas, mãos e pescoço. A garganta ficou seca e ela mal conseguia engolir a própria saliva.
Disfarçadamente tirou o celular da bolsa, mas estava sem sinal, notou que as travas de segurança das portas do banco de trás estavam baixadas e os vidros levantados... Como vou sair daqui?
Como se uma luz acendesse em sua cabeça, mudou o trajeto pedindo para que o motorista parasse na próxima esquina.
O carro diminuiu a marcha e ia em¾ direção ao acostamento quando de repente acelerou novamente e saiu cantando pneus.
A moça no banco de trás, debatia-se freneticamente implorando para que o motorista parasse na próxima esquina.
O carro avançou mais uns dez minutos até entrar na garagem afastada de um galpão em obras e abandonado.
O homem saiu do carro de um pulo só, abriu a porta de trás e tirou a moça com força jogando-a de costas no chão de terra acascalhado com pedras brancas ovais. Rasgou-lhe a blusa com um único puxão e sorrindo abria sua jaqueta.
Fechando os olhos com força a única solução era chorar, já que ele havia amarrado seus pulsos e tornozelos.
"Moça... Moça chegamos!"
Assustada abriu os olhos e olhou rapidamente para seus pulsos e tornozelos, estavam livres, olhou para o taxista que sorria com ar paternal.
"Obrigada, acho que peguei no sono..."
Desceu do táxi aliviada, entrou no saguão da casa de shows e foi direto para o banheiro retocar a maquiagem.
Sentada na primeira fila do camarote central deliciava-se com a música que vinha do palco, estava tudo realmente perfeito.
De repente olhou para seus pés e viu marcas em volta de seus tornozelos, olhou para os pulsos e as mesmas marcas estavam lá também, contornando-os como se fossem pulseiras. Passou as mãos rapidamente pelos cabelos e estas saíram cheias de terra...
Estarrecida olhou dentro de sua bolsa e notou que estava completamente vazia. Com os olhos marejados e as mãos trêmulas ajeitou-se em seu confortável sofá e chorando silenciosamente continuou a assistir o seu tão esperado e aguardado show.






Guia da Reforma Ortográfica - FMU - FIAM FAAM - FISP


A promessa do governo de que o acordo ortográfico abriria mercados internacionais às editoras brasileiras, com a unificação da língua portuguesa, pode ter ido por água abaixo. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o volume de exportação de livros para alguns países lusófonos vem decrescendo depois que a nova ortografia entrou em vigor.

Em 2008, ano em que o acordo ainda não vigorava, a exportação de livros para Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde, países que aderiram à nova ortografia, movimentou cerca de 15 milhões de dólares. No ano passado, o montante somou pouco mais de 9 milhões de dólares, queda de quase 40% na comparação entre um período e outro.

A queda no valor, no entanto, não é reflexo de que os livros ficaram mais baratos. O volume de livros exportados foi reduzido pela metade na comparação entre 2008 e 2010.

Segundo o ministério, a exportação total de livros brasileiros vem caindo ano a ano. Em 2008, as exportações de títulos somaram 37,7 milhões de dólares. No ano passado, o montante exportado foi de 26,8 milhões de dólares.

Proposta

Quando entrou em vigor, em janeiro de 2009, o acordo tinha como um dos principais propósitos ampliar a atuação das editoras brasileiras em países com o mesmo idioma. A entrada ficaria mais fácil e os custos reduzidos, uma vez que não seria necessária a tradução ou adaptação das obras exportadas.

Consulta

Editoras consultadas por EXAME.com afirmam que o que deveria gerar ganhos para as companhias brasileiras, até o momento, só trouxe prejuízos. Segundo Sergio Machado, presidente editorial da Record, se o acordo ainda vai favorecer algum país, deve ser Portugal, que está mais perto da África e tem mais chances de fechar parcerias com países desse continente.

Prejuízos

“Há o problema também de que livros não são vendidos por idiomas e sim por direitos autorais. Não vejo vantagens econômicas e, até agora, a Record só somou gastos para adequar todas as obras ao novo português”. De acordo com Machado, o custo médio para reeditar um livro seguindo as novas regras ortográficas gira em torno de 500 reais. A Record possui 8.000 títulos catalogados. “O benefício, então, foi zero”, afirmou.

A fatia de exportação da Record, nesses dois anos de acordo, não aumentou . A editora exporta 0,5% do faturamento anual, cerca de 50.000 dólares – um volume muito baixo e sem perspectivas de crescer no longo prazo. Entre os títulos mais conhecidos da companhia, estão “Quem mexeu no meu queijo”, de Spencer Johnson, e o consagrado livro da literatura brasileira “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos.

A editora Sextante tem uma avaliação semelhante sobre o acordo. Mesmo não contando com um volume significativo de livros exportados, por ter mais de 95% de seu portfólio composto por traduções, não vê nenhuma vantagem financeira no acordo.

Segundo Paul Christoph, diretor de direitos autorais da editora, há também problemas culturais que dificultam a entrada de obras brasileiras em outros países, ainda que o idioma seja o mesmo. “O humor daqui não é o mesmo que o de lá, então, não basta apenas traduzir”, diz.

Apesar de não abrir números, Christoph diz que a Sextante teve gastos consideráveis para a adaptação de seus títulos à nova reforma ortográfica e não vê pela frente nenhum retorno dos investimentos feitos até o momento.

Resultados a longo prazo

Há, no entanto, quem acredite que o acordo ainda pode trazer resultados positivos. Segundo Mauro Lorch, vice-presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e presidente da editora Guanabara, especializada em livros técnicos na área jurídica, médica e de engenharia, ainda é cedo para fazer um balanço, e os efeitos devem começar a aparecer entre dois e quatro anos.

“Trata-se de um investimento de longo prazo. O que o Brasil precisa, neste momento, é criar um sistema logístico que facilite a chegada de nossos títulos aos países onde se fala a língua portuguesa”, afirmou. Segundo Lorch, os países africanos são mercados jovens, com grande potencial de crescimento.

Galeno Amorim, presidente da Fundação Biblioteca Nacional, também é defensor da reforma ortográfica e afirma que, mais do que abrir mercado internacional, o acordo promove também a troca de experiências culturais. “Os efeitos, no entanto, não vão acontecer de uma hora para outra e devem surgir a partir da iniciativa das próprias editoras de quererem crescer nos mercados internacionais”.

Parcerias

Desde 2006, antes mesmo de o acordo entrar em vigor, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex) criaram o projeto Brazilian Publisher, que tem como objetivo divulgar o nome das editoras brasileiras no exterior. Mesmo não tendo nenhuma relação com a reforma ortográfica, duas missões estão agendadas para Angola e Moçambique neste ano.

Portugal, no entanto, não é considerado um mercado prioritário para a Apex. “Mesmo falando a nossa língua, Portugal não é um país estratégico. É um mercado maduro, com um número considerável de editoras e obras já publicadas. Eles não nos dão abertura”, afirmou Christiano Braga, gestor do projeto Brazilian Publisher.

Existem, entretanto, editoras portuguesas interessadas no mercado brasileiro. A Leya está no Brasil desde setembro de 2009, mesmo ano em que o acordo passou a vigorar no país, e já tem centenas de títulos publicados. A editora tem dois livros, no segmento de não-ficção, entre os dez mais vendidos no Brasil, de acordo com o ranking da revista Veja. Além do Brasil, a companhia portuguesa está presente também em Moçambique e Angola e já é líder de vendas nas duas regiões.


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