É, meu ano começou péssimo. Depois de dois anos de pandemia sem poder ver os amigos do Rio, finalmente conseguimos passar a virada juntos, mas bem no dia 31 de dezembro de 2021 a vó de uma miga onde passaríamos a virada faleceu. Com certeza nossa confraternização não aconteceu e aí eu fui para casa no dia 01 de janeiro de 2022 e a minha mãe faleceu. Ela tinha Alzheimer.
O pior de tudo foi que a encontrei morta, deitadinha na cama do jeito que a deixei quando fui para a casa dos meus amigos, estava com a calça do pijama azul marinho de bolinhas brancas e uma blusa de lã vermelha com um Mickey na frente.
E este foi o início do meu ano. A lista de livros que li, não foi publicada, nem o resumo dos livros. O livro que eu havia voltado a escrever também voltou a ficar estagnado, direto para a gaveta. O cachorro ficou amuadinho, triste, deitava embaixo da cadeira onde costumava dormir enquanto ela estrava sentada. As fraldas permaneceram sobre o balcão por meses, dois pacotes novos, com os lenços umedecidos, e as caixas do remédio da pressão e o calmante para dormir também.
Por um bom tempo ainda encontrei fios de cabelos branquinhos pela casa quando estava limpando. Separei sozinha todas as coisinhas dela e as doei juntamente com algumas roupas minhas, guardei somente em uma gaveta algumas coisas para olhar depois, mas confesso que ainda não o fiz.
A casa ficou mais vazia e sem vida. Precisei mudar.
Três meses já na casa nova, aos finais de semana o vazio sufoca, é quando estou em casa "descansando" da semana de trabalho.
Sozinha, escutando o tic tac do relógio e o barulho da chuva como agora.
Cheguei a conclusão de que agora sou órfã, como isso aconteceu tão rápido? Em 2018 meu pai descansou e agora em 2022 minha mãe. Qual será o próximo? Éramos em seis...
De uma coisa posso me orgulhar, que de todos os filhos, fui a única que manteve a casa em ordem desde sempre, com as contas em dia, dei banho, comprei o que ela precisava como roupas, remédios e fraldas, levantava de 4 a 6 vezes por noite para levá-la ao banheiro, ela usava fralda, mas eu fazia isso para que ela pudesse se locomover um pouco pela casa e não atrofiar de vez. Agradeço a Deus por ter cuidado da melhor forma que eu pude, com as limitações que enfrentei, de 4 filhos, só um, no caso eu carregou a casa nas costas...