A promessa do governo de que o acordo ortográfico abriria mercados internacionais às editoras brasileiras, com a unificação da língua portuguesa, pode ter ido por água abaixo. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o volume de exportação de livros para alguns países lusófonos vem decrescendo depois que a nova ortografia entrou em vigor.
Em 2008, ano em que o acordo ainda não vigorava, a exportação de livros para Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde, países que aderiram à nova ortografia, movimentou cerca de 15 milhões de dólares. No ano passado, o montante somou pouco mais de 9 milhões de dólares, queda de quase 40% na comparação entre um período e outro.
A queda no valor, no entanto, não é reflexo de que os livros ficaram mais baratos. O volume de livros exportados foi reduzido pela metade na comparação entre 2008 e 2010.
Segundo o ministério, a exportação total de livros brasileiros vem caindo ano a ano. Em 2008, as exportações de títulos somaram 37,7 milhões de dólares. No ano passado, o montante exportado foi de 26,8 milhões de dólares.
Proposta
Quando entrou em vigor, em janeiro de 2009, o acordo tinha como um dos principais propósitos ampliar a atuação das editoras brasileiras em países com o mesmo idioma. A entrada ficaria mais fácil e os custos reduzidos, uma vez que não seria necessária a tradução ou adaptação das obras exportadas.
Consulta
Editoras consultadas por EXAME.com afirmam que o que deveria gerar ganhos para as companhias brasileiras, até o momento, só trouxe prejuízos. Segundo Sergio Machado, presidente editorial da Record, se o acordo ainda vai favorecer algum país, deve ser Portugal, que está mais perto da África e tem mais chances de fechar parcerias com países desse continente.
Prejuízos
“Há o problema também de que livros não são vendidos por idiomas e sim por direitos autorais. Não vejo vantagens econômicas e, até agora, a Record só somou gastos para adequar todas as obras ao novo português”. De acordo com Machado, o custo médio para reeditar um livro seguindo as novas regras ortográficas gira em torno de 500 reais. A Record possui 8.000 títulos catalogados. “O benefício, então, foi zero”, afirmou.
A fatia de exportação da Record, nesses dois anos de acordo, não aumentou . A editora exporta 0,5% do faturamento anual, cerca de 50.000 dólares – um volume muito baixo e sem perspectivas de crescer no longo prazo. Entre os títulos mais conhecidos da companhia, estão “Quem mexeu no meu queijo”, de Spencer Johnson, e o consagrado livro da literatura brasileira “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos.
A editora Sextante tem uma avaliação semelhante sobre o acordo. Mesmo não contando com um volume significativo de livros exportados, por ter mais de 95% de seu portfólio composto por traduções, não vê nenhuma vantagem financeira no acordo.
Segundo Paul Christoph, diretor de direitos autorais da editora, há também problemas culturais que dificultam a entrada de obras brasileiras em outros países, ainda que o idioma seja o mesmo. “O humor daqui não é o mesmo que o de lá, então, não basta apenas traduzir”, diz.
Apesar de não abrir números, Christoph diz que a Sextante teve gastos consideráveis para a adaptação de seus títulos à nova reforma ortográfica e não vê pela frente nenhum retorno dos investimentos feitos até o momento.
Resultados a longo prazo
Há, no entanto, quem acredite que o acordo ainda pode trazer resultados positivos. Segundo Mauro Lorch, vice-presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e presidente da editora Guanabara, especializada em livros técnicos na área jurídica, médica e de engenharia, ainda é cedo para fazer um balanço, e os efeitos devem começar a aparecer entre dois e quatro anos.
“Trata-se de um investimento de longo prazo. O que o Brasil precisa, neste momento, é criar um sistema logístico que facilite a chegada de nossos títulos aos países onde se fala a língua portuguesa”, afirmou. Segundo Lorch, os países africanos são mercados jovens, com grande potencial de crescimento.
Galeno Amorim, presidente da Fundação Biblioteca Nacional, também é defensor da reforma ortográfica e afirma que, mais do que abrir mercado internacional, o acordo promove também a troca de experiências culturais. “Os efeitos, no entanto, não vão acontecer de uma hora para outra e devem surgir a partir da iniciativa das próprias editoras de quererem crescer nos mercados internacionais”.
Parcerias
Desde 2006, antes mesmo de o acordo entrar em vigor, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex) criaram o projeto Brazilian Publisher, que tem como objetivo divulgar o nome das editoras brasileiras no exterior. Mesmo não tendo nenhuma relação com a reforma ortográfica, duas missões estão agendadas para Angola e Moçambique neste ano.
Portugal, no entanto, não é considerado um mercado prioritário para a Apex. “Mesmo falando a nossa língua, Portugal não é um país estratégico. É um mercado maduro, com um número considerável de editoras e obras já publicadas. Eles não nos dão abertura”, afirmou Christiano Braga, gestor do projeto Brazilian Publisher.
Existem, entretanto, editoras portuguesas interessadas no mercado brasileiro. A Leya está no Brasil desde setembro de 2009, mesmo ano em que o acordo passou a vigorar no país, e já tem centenas de títulos publicados. A editora tem dois livros, no segmento de não-ficção, entre os dez mais vendidos no Brasil, de acordo com o ranking da revista Veja. Além do Brasil, a companhia portuguesa está presente também em Moçambique e Angola e já é líder de vendas nas duas regiões.
Em 2008, ano em que o acordo ainda não vigorava, a exportação de livros para Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde, países que aderiram à nova ortografia, movimentou cerca de 15 milhões de dólares. No ano passado, o montante somou pouco mais de 9 milhões de dólares, queda de quase 40% na comparação entre um período e outro.
A queda no valor, no entanto, não é reflexo de que os livros ficaram mais baratos. O volume de livros exportados foi reduzido pela metade na comparação entre 2008 e 2010.
Segundo o ministério, a exportação total de livros brasileiros vem caindo ano a ano. Em 2008, as exportações de títulos somaram 37,7 milhões de dólares. No ano passado, o montante exportado foi de 26,8 milhões de dólares.
Proposta
Quando entrou em vigor, em janeiro de 2009, o acordo tinha como um dos principais propósitos ampliar a atuação das editoras brasileiras em países com o mesmo idioma. A entrada ficaria mais fácil e os custos reduzidos, uma vez que não seria necessária a tradução ou adaptação das obras exportadas.
Consulta
Editoras consultadas por EXAME.com afirmam que o que deveria gerar ganhos para as companhias brasileiras, até o momento, só trouxe prejuízos. Segundo Sergio Machado, presidente editorial da Record, se o acordo ainda vai favorecer algum país, deve ser Portugal, que está mais perto da África e tem mais chances de fechar parcerias com países desse continente.
Prejuízos
“Há o problema também de que livros não são vendidos por idiomas e sim por direitos autorais. Não vejo vantagens econômicas e, até agora, a Record só somou gastos para adequar todas as obras ao novo português”. De acordo com Machado, o custo médio para reeditar um livro seguindo as novas regras ortográficas gira em torno de 500 reais. A Record possui 8.000 títulos catalogados. “O benefício, então, foi zero”, afirmou.
A fatia de exportação da Record, nesses dois anos de acordo, não aumentou . A editora exporta 0,5% do faturamento anual, cerca de 50.000 dólares – um volume muito baixo e sem perspectivas de crescer no longo prazo. Entre os títulos mais conhecidos da companhia, estão “Quem mexeu no meu queijo”, de Spencer Johnson, e o consagrado livro da literatura brasileira “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos.
A editora Sextante tem uma avaliação semelhante sobre o acordo. Mesmo não contando com um volume significativo de livros exportados, por ter mais de 95% de seu portfólio composto por traduções, não vê nenhuma vantagem financeira no acordo.
Segundo Paul Christoph, diretor de direitos autorais da editora, há também problemas culturais que dificultam a entrada de obras brasileiras em outros países, ainda que o idioma seja o mesmo. “O humor daqui não é o mesmo que o de lá, então, não basta apenas traduzir”, diz.
Apesar de não abrir números, Christoph diz que a Sextante teve gastos consideráveis para a adaptação de seus títulos à nova reforma ortográfica e não vê pela frente nenhum retorno dos investimentos feitos até o momento.
Resultados a longo prazo
Há, no entanto, quem acredite que o acordo ainda pode trazer resultados positivos. Segundo Mauro Lorch, vice-presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e presidente da editora Guanabara, especializada em livros técnicos na área jurídica, médica e de engenharia, ainda é cedo para fazer um balanço, e os efeitos devem começar a aparecer entre dois e quatro anos.
“Trata-se de um investimento de longo prazo. O que o Brasil precisa, neste momento, é criar um sistema logístico que facilite a chegada de nossos títulos aos países onde se fala a língua portuguesa”, afirmou. Segundo Lorch, os países africanos são mercados jovens, com grande potencial de crescimento.
Galeno Amorim, presidente da Fundação Biblioteca Nacional, também é defensor da reforma ortográfica e afirma que, mais do que abrir mercado internacional, o acordo promove também a troca de experiências culturais. “Os efeitos, no entanto, não vão acontecer de uma hora para outra e devem surgir a partir da iniciativa das próprias editoras de quererem crescer nos mercados internacionais”.
Parcerias
Desde 2006, antes mesmo de o acordo entrar em vigor, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex) criaram o projeto Brazilian Publisher, que tem como objetivo divulgar o nome das editoras brasileiras no exterior. Mesmo não tendo nenhuma relação com a reforma ortográfica, duas missões estão agendadas para Angola e Moçambique neste ano.
Portugal, no entanto, não é considerado um mercado prioritário para a Apex. “Mesmo falando a nossa língua, Portugal não é um país estratégico. É um mercado maduro, com um número considerável de editoras e obras já publicadas. Eles não nos dão abertura”, afirmou Christiano Braga, gestor do projeto Brazilian Publisher.
Existem, entretanto, editoras portuguesas interessadas no mercado brasileiro. A Leya está no Brasil desde setembro de 2009, mesmo ano em que o acordo passou a vigorar no país, e já tem centenas de títulos publicados. A editora tem dois livros, no segmento de não-ficção, entre os dez mais vendidos no Brasil, de acordo com o ranking da revista Veja. Além do Brasil, a companhia portuguesa está presente também em Moçambique e Angola e já é líder de vendas nas duas regiões.
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